Nos derradeiros meses de 2019 fiz um curso introdutório sobre criação de Histórias em Quadrinhos da ilustradora Thais Linhares que acontecia no Sesc. Entre uma aula e outra tive que inventar às pressas um desenho para expor junto às meninas do coletivo Voragem, faltava três dias para o que seria nossa primeira exposição na Casa da Cultura, e ainda, estava com dúvidas sobre qual trabalho incluir nesse projeto.
Após o fim de cada aula eu reunia alguns croquis, crônicas e velhas revistas com ensaios fotográficos das “femme sauvages” de Autum Sonnichsen entre outras referências. Enquanto escrevia o roteiro surgiu a primeira faísca daquela que viria ser (até o momento) minha única personagem que deixei cair no mundo, o nome dela é Diaurum.
Diaurum significa “onça-preta” em Tupi-Guarani, é um nome que me acompanha faz tempo. Guardei comigo até encontrar uma forma digna de recebê-lo e agora faz parte da minha história. Ela é dona de uma pele vermelha (realmente) “cor de jambo”, tem uma risada alta, uma elegância inata e olhos de gato. Diaurum se cobre com o cabelo da cor da noite, se sente muito confortável com seu corpo, chora até adormecer sob a luz da lua. Diaurum não se estremece diante do estranho, não se acovarda com injustiça. Eu a desenhei outras vezes em pequenos croquis, com versos bem simples, intitulados de capítulos I, II, III, mas nunca publicados. Penso nela igualzinha a Paraguaçu, porque traz consigo a "cor local" das primeiras terras.
A cor local na literatura é a descrição de elementos característicos de uma dada região ou do pitoresco de uma paisagem, particularidades dos costumes ou dialetos de certas comunidades. Não cabe nesse momento discutir profundamente o conceito mas, fiquem sabendo que no que diz respeito às personagens citadas aqui, sua cor local também representa paixões violentas, atos frenéticos e selvagem beleza.
Nesse ano tive um encontro com uma heroína de personalidade semelhante ao que havia imaginado entre 2019-2020, essa criatura é Carmen, a cigana astuciosa (romani) do escritor francês Prosper Mérimée, assim eternizada como a imagem da mulher cão. Existe uma peça do mesmo autor intitulada "Uma mulher é um diabo" ou "A tentação de Santo Antônio", é claro que esse título nos evoca a figura da femme fatale, uma personagem descrita no prefácio da obra como “cercada de humor e sedução”.
Por isso, e por outras referências que apresentam o uso da cor local, vou trazer mais vezes para esse espaço, além da Carmen, os demais contos e novelas do autor.
Essa novela me fez sonhar novamente com as mulheres de risada alta que espantam qualquer espírito sem luz, me divertir vendo a maneira como elas perturbam a paz de algum homem que se acha muito esperto.
Às vezes penso nelas chorando pra se curar depois de um dia ruim, ao mesmo tempo em que a chuva cai, penso nelas escrevendo cartas e diários sobre suas histórias. E no fim do dia elas correm para junto do mar. E se não tiver o mar tão perto, tudo bem, elas ainda têm o luar.
Uma mulher é um diabo,
Yi Ume.
Introspection - Que les eaux m’aident à m’épanouir au milieu de la douleur.
Yana Tupinambá, Flipbook and Gif 1/3 (2021).
Ma il tempo intero è piegato, rovesciato, deviato. È nelle curve inconfessate che, come un presagio della verità assoluta, avverto il fantasma di tutte le morti.
LUI : Tu n'as rien vu à Hiroshima. Rien.
ELLE : J'ai tout vu. Tout... Ainsi l'hôpital je l'ai vu. J'en suis sûre. L'hôpital existe à Hiroshima. Comment aurais-je pu éviter de le voir ?
LUI : Tu n'as pas vu d'hôpital à Hiroshima. Tu n'as rien vu à Hiroshima... ELLE : Je n'ai rien inventé.
LUI : Tu as tout inventé.
ELLE : Rien. De même que dans l'amour cette illusion existe, cette illusion de pouvoir ne jamais oublier, de même j'ai eu l'illusion devant Hiroshima que jamais je n'oublierai. De même que dans l'amour.
Le scénario, le dialogue, les commentaires par Marguerite Duras, du célèbre film d'Alain Resnais, Hiroshima mon amour (1959), un classique du cinéma.
Prometer E não cumprir: Taí viver.
Millor Fernandes Veja mais em: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa3110/millor-fernandes https://brasilescola.uol.com.br/literatura/haicai-um-poema-origem-japonesa.htm
“Je ne crois pas à l’art dont l’expression n’est pas contrainte par le besoin qu’a l’homme d’ouvrir son coeur Tout art — littérature comme musique — doit être produit avec notre coeur sanguinolent — L’art est notre coeur sanguinolent”
— Edvard Munch, Carnet de croquis, 1890-1892