Era fisicamente desconfortável estar perto da outra, quase como se tivesse uma força que a puxasse para longe. Claro que tudo era apenas uma pressão psicológica pedindo para que fosse embora logo, mas estava decidida a não ficar intensificando o ódio que tinha pela outra. Estava tão cansada de ficar brigando por motivos que tinha na cabeça, mesmo que a sensação que Natalia escondia algo permanecesse vívida em sua mente. Os olhos analisaram a outra com certa indiferença, tentando compreender qual jogo a semideusa jogava. Não era uma pessoa que ficava correndo atrás dos outros, principalmente quando alguém não gostava dela. Ficar buscando aprovação de pessoas que não se importava não tinha um objetivo, na opinião dela. Apenas perderia ainda mais tempo da vida. "Certo. Melhoras para o seu estômago. Se não melhorar, deveria ir buscar alguma coisa na enfermaria." Não que se preocupasse, mas parecia uma boa coisa a ser falada. Dores não costumavam ser muito agradáveis e, mesmo que não gostasse de Natalia pessoalmente, não ficaria desejando mal para ela o tempo todo... Bem, só de vez em quando auxiliava a criar mais caráter, certo? Meio sem jeito, deixou a cesta em cima da mesa indicada. Estava cansada de levá-la de um lado para o outro. "Oh, é. Tem isso, mas acredito que logo isso acabará." Pelo menos, esperava que sim. Ronnie merecia um pouco de paz, assim como os demais campistas. Não aguentava mais sofrimento atrás de sofrimento, sem ter um tempo para aproveitar a vida como ansiava fazer. "Estou bem. Precisa de mais que uma deusa irritada para me tirar a paz." O que era uma mentira, mas não revelaria os verdadeiros sentimentos para a filha de Hécate. Mesmo que soubesse pelas expressões e falas sem emoção alheias que a presença não era bem-vinda, Anastasia gostava de incomodar aqueles que não possuía afeição alguma, ainda mais quando qualquer movimento parecia cansá-la devido a falta de sono. Sentou-se ao lado dela, tentando obter alguma informação da capa do livro que a outra parecia excessivamente focada. "O que está lendo?"
໋ O cansaço falava mais alto, então, a mente em torpor não a faria entrar em discussão. Ela também não desejava aquilo. O último encontro entre as duas havia rendido a Natalia emoções que não gostava de revisitar e, agora, em recuperação, ela não tinha nenhuma vontade de voltar a sentir aquilo. Era uma surpresa tê-la ali, depois de acreditar que o chalé de Hécate seria o último lugar que a filha de Afrodite quisesse estar. Porém, ao ouvi-la chamar pela irmã, Natalia virou para encará-la. Talvez, a expressão de poucos amigos tivesse causado alguma impressão, e ela tratou rapidamente de desmanchar a carranca, assumindo a calma no lugar. "Não, não quero, obrigada." Sorriu minimamente, balançando a cabeça em negação para intensificar ainda mais aquela afirmação. "Acredito em você, mas não, muito obrigada. Meu estômago ainda está fraco, então, acabo passando algumas coisas. Você pode deixar os bolinhos ali, em cima daquela mesa." Apontou para o móvel de madeira logo à frente das duas. "Eu não sei se a Veronica está no momento. Após a poção, estão todos mais dispostos a voltar à rotina normal. Não querem ficar mais presos por aqui, apesar de ainda sermos alvos de todo o acampamento." Natalia se manteve sentada da mesma forma que estava minutos antes de ela aparecer: preguiçosamente esticada sobre o sofá escuro, enrolada em um cobertor macio, com um livro qualquer em mãos. "Você está bem?" Não era interesse, mas educação. "Vejo que está, pelo menos pelo que eu vejo. Legal." Sorriu, tornando a atenção para o livro, mesmo que não tivesse intenção de ler de onde havia parado.
ʚ com @magicwithaxes .
ʚ em chalé de hécate .
"Ronnie?" A pergunta saiu dos lábios, chamando a semideusa, esperando que fosse encontrá-la no chalé. Estava a procurando com a cesta cheia de bolinhos, desejando entregar aquele presente para que se sentisse um pouco melhor. Estava pensando que, provavelmente, a loira estava passando por dificuldades, depois de tudo que estava acontecendo. Encontrou, no entanto, a presença de Natalia, alguém que teve um desentendimento não muito tempo atrás. Não que disfarçasse qualquer gosto pela presença alheia, mas a mente permanecia em um estado de dormência constante que impediam que se esforçasse o suficiente para ter alguma briga. "Ah, oi." Cumprimentou um pouco sem jeito. Estava parada sem saber o que fazer, segurando aquela cesta enorme. "Quer um muffin?" As palavras saíram hesitantes, mesmo que não soubesse exatamente como interagir com Natalia sem que fosse sem paciência. Ainda sim, estava cansada demais para ficar brigando, mesmo que ainda desconfiasse que a outra tinha alguma coisa que não estava contando aos demais. Havia várias noites que não dormia corretamente, então sequer se importava mais com aquilo, contanto que não acontecesse novamente o ocorrido com Hécate. "Não envenenei, se é isso que está pensando. Seria muito Rainha Má de minha parte."
Os olhos delas analisavam as palavras dela com o pequeno surto que dava. Realmente Natalia considerava-se tão especial para que precisasse ter um motivo para não gostar dela? Na verdade, considerava entediante a personalidade alheia, não entendendo o que alguns viam nela. Era simplesmente a definição de sem graça, não tendo nada que se destacasse além de ser um dos Filhos da Magia, o que definitivamente tornava tudo mais interessante. Permaneceu inexpressiva conforme a fala da outra tornava-se mais hostil, tentando não sentir-se atacada com aquilo. Estava cansada demais da recuperação e o comportamento da outra era ainda mais irritante naquela situação. Colocou a mão na cabeça, pensando que, talvez, se não tivesse passando por tantas situações, Anastasia teria sido um pouco mais racional. "Não tenho uma inimizade com você. Você teria que ser um pouco mais divertida para isso." Soltou um suspiro depois, massageando a própria cabeça. Notou uma leve mudança na personalidade alheia, mas talvez tivesse que provocá-la mais um pouco para descobrir a origem. Por um segundo, questionou se não havia mais algo para Natalia que não soubesse. Havia certa animosidade quanto aos filhos de Circe e Hécate no Acampamento Meio-Sangue e a filha de Afrodite, inicialmente, tinha pensado que não era tão justificado. Flynn possuía os amigos que queriam vingança, aqueles que estavam tristes e, de alguma forma ou outra, culpavam aqueles que tinham desmaiado inesperadamente. Uma leve desconfiança se instaurou na mente de Anastasia, algo que não tinha anteriormente. "Você tem essa sua personalidade de Mary Sue, sonsa para caramba, e ainda espera que eu goste de você? É alguma obrigação? Aqui vai uma dica para você, Nati, você não é tão importante assim." A provocação saiu facilmente dela, com um sorriso ácido que destinava aqueles que não eram merecedores. Para ser sincera, Anastasia queria ver onde era o limite da filha de Hécate, observar qual era o momento que finalmente explodiria. Estava ansiosa para aquilo. Jamais tinha visto a outra se irritar verdadeiramente, o que era o suficiente para que quisesse alguma coisa. Mais que tédio, ela estava curiosa para saber mais a respeito do porquê aquele comportamento tão repentino.
໋ Natalia inspirou lentamente, apertando a mão em volta das flores, os olhos fechando automaticamente enquanto pensava nas razões para se manter calma. O mental já abalado pedia para que ela recuasse. Dar as costas era uma ótima opção, evitar conflitos. Seria bom não dar motivos, pois o alvo que tinha sobre a cabeça já era demasiado grande para atrair mais atenção. Por outro lado, a razão afetada, efeito do cansaço que toda aquela situação contribuía, pedia por uma reação, e a filha de Hécate assumiu aquela opção por puro desgosto. Os olhos se voltaram para a semideusa, esboçando, sem medo algum, a irritação que sentia. Sua primeira ação foi um rolar de olhos, esboçando sua também indiferença. Se havia suplicado antes, fora por empatia, algo que ela não conseguia sentir partindo da filha de Afrodite. Analisando as feições da outra, notou a cicatriz marcada pelo curativo; se não fosse o choque abrupto na conversa, ela tentaria se compadecer com a situação, mas as chances para aquilo esvaíram-se rápido, junto com a paciência. Movendo-se sutilmente para a direção contrária, Natalia jogou as flores em direção ao fogo recém-aceso, mencionando suas preces apenas em mente. "Seu desgosto por mim é uma incógnita." Virou-se para fitá-la mais uma vez, cruzando os braços, assumindo uma postura imperativa. Suas feições cansadas eram de conflito, mas ela se manteria daquela forma por tempo suficiente. Não se deixaria ir por baixo tão facilmente. "Você é assim? Desgosta das pessoas por escolha própria? Em um dia qualquer, você levanta e fala que vai começar uma inimizade por pura diversão? Sua vida é tão tediosa a esse ponto?" Aquela não era a Natalia que comumente reverteria a situação com bom humor e algumas risadas. Ali, prostrada para Anastasia, estava uma que ela mal reconhecia, mas que não repreendia. Talvez, ir ao caminho mais rígido e de poucos amigos não era tão ruim assim. Precisava se proteger de alguma maneira, não dar brechas para expor o quão frágil estava. "Sinceramente," Uma mão foi ao rosto, esfregando os dedos nos dois olhos. Não, não choraria. Derramar lágrimas seria a última das possibilidades. "Vindo de sua atitude sem fundo algum, acho que eu poderia esperar qualquer coisa, não acha? Como você mesma disse, não gosta de mim. Algo de bom vindo de você seria suspeito." Deixou escapar uma risada unida ao descontentamento e sarcasmo. Ainda assim, ela iria ao "x" da questão. "Quais suas razões para não gostar de mim? Eu nunca te fiz nada. Tentei ser amigável, mas," Agora ela massageava as têmporas com força. Havia feito para criar tal desagrado? Era impossível ser odiada por apenas ser quem era. Pelo menos, era o que acreditava. "Mas, você me repeliu no primeiro instante. Sim, há pessoas que não gostam de mim e por motivos que eu mesma dei… Porém, você… O que eu fiz para você?"
Por um momento, teve vontade de rir daquela situação. A própria oferenda estava em mãos quando escutou as palavras alheias, pensando que, mesmo que tivesse sofrendo com as opiniões a respeito dos Filhos da Magia, não ligava nenhum pouco para o sofrimento alheio. "Oh, que coitadinha. Vai chorar?" A voz dela saiu com sarcasmo, revirando-se na órbita. Não sabia exatamente o que era, mas, desde que tinha colocado os olhos em Natalia, tinha a odiado. Havia algo inerte naquela personalidade gentil e, na opinião de Anastasia, burra, que fazia com que trouxesse o pior comportamento possível da filha de Afrodite. Era bem diferente do que trazia para Kitty, que tratava com mais indiferença do que grosseria. Não poupava o sarcasmo em direção a outra, já cansada daquela conversa que sequer tinha começado. "Você acha que sou preconceituosa nesse nível?" Os olhos dela foram como estacas de gelo em direção a ela, repletas de uma frieza destinada apenas aqueles que Anastasia nutria certo desprezo. Sabia que a raiva era injustificada, mas aquele sentimento continuava pungente dentro de si, algo que não conseguia se livrar tão facilmente. Um suspiro escapou dela, conforme analisava a outra dos pés à cabeça lentamente. Sinceramente, sentia até mesmo um pouco de pena da outra achar que realmente se importava com Flynn a ponto de acusá-la de matar alguém. É claro que tinha sido uma grande perda, mas tinha mais o que pensar e achava mais preocupante do que triste a morte do campista. Não ficaria sofrendo por alguém que sequer conhecia tão bem. "Vamos deixar uma coisa bem clara aqui: meu desgosto por você não tem nenhuma relação com qualquer status ou cargo que você carrega aqui." Podia ser várias coisas, mas preconceituosa não estava entre essas características e recusava-se que até mesmo a filha de Hécate tivesse essa impressão dela. "Por que você só não manda essa galera que está te acusando isso se fuder, se está te incomodando tanto?" Era o que faria. Desde que recebeu a cicatriz no rosto, tem recebido olhares curiosos e muitos reprovadores, como se tivesse feito algo errado além de proteger os outros campistas. Para esses, Anastasia retornava com uma expressão de morte, que com certeza era o suficiente para lembrá-los que não se mexia com a filha de Afrodite. Mesmo que tivesse um rosto belo (o que duvidava, naquele momento), era uma pessoa que poderia se tornar perigosa caso pisassem em algum calo dela.
"you don't see anything. nothing's happening. just go about your business."
local de oferendas com @ncstya ,
໋ "Se veio até aqui para desferir acusações ou teorias, por favor, dê meia volta." O tom de voz calmo e ensaiado, enquanto ela se mantinha rígida, sem se dar ao trabalho de reconhecer quem quer que fosse. Os olhos fixos na fogueira apagada, enquanto em mãos trazia um pequeno buquê de flores que mais cedo havia encontrado em uma clareira bosque adentro. Não era costume realizar oferendas, mas tomada pelo sentimento de insatisfação, Natalia viu necessidade para tal ato. Talvez, a mãe surgisse e explicasse os significados dos pesadelos. Talvez. "Você não me viu aqui, nada está acontecendo. Por favor…" Sem Aidan em seu encalço, ela se tornava um alvo exposto. Era ruim entregar-se à dependência, mas não negava que a presença do amigo lhe evitava estresse — com ele por perto, nenhum semideus ousava chegar perto. "Eu sei o que andam falando por aí, sei que acusam a todos que praticam magia," suspirou, levando a mão livre para o rosto, esfregando a ponta dos dedos contra a testa. "Mas não é sensato também acusar sem prova alguma. Eu estou cansada de ouvir que eu sou suspeita de ter matado um dos meus melhores amigos…" Ao olhar para o lado, Natalia reconheceu o rosto harmonioso da filha de Afrodite, aliviando a própria expressão enfurecida logo depois. "Se quiser ficar aí, que fique. Só… Não faça essas perguntas. Eu não aguento mais…"